A rolha

A cortiça que compõe as rolhas dos vinhos há séculos vem da casca da árvore sobreiro, cientificamente chamada Quercus Suber L. Existem vários vestígios da utilização desse material natural pelos povos antigos do Egito e na civilização romana, por exemplo, mas o emprego em nível pré-industrial remete aos finais do século XVII. Portugal, Espanha, Itália, França, Marrocos, Tunísia e Argélia são os maiores países produtores, sendo que o primeiro é responsável por algo em torno de 49% da produção mundial, segundo a Associação Portuguesa da Cortiça.

A cortiça é leve, impermeável a líquidos e gases, elástica, excelente isolante térmico e acústico e muito resistente ao atrito, ou seja, um produto com qualidades únicas. A impermeabilidade aliada ao fato de ser inodora e insipida a posiciona como vedante de excelência para bebidas e lhe oferece a possibilidade de estar em contato com alimentos sem alterá-los. Sem contar que é biodegradável e renovável, predicados que a tornam uma opção magnífica para vedar os vinhos. Mas, além de não ser uma opção barata, os ambientalistas promovem cada vez mais protestos contra essa prática extrativista.

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O sobreiro é típico do clima mediterrâneo e encontrou em Portugal seu habitat ideal. Faz parte da herança natural, ecológica e econômica do país europeu, sendo que cada árvore vive entre 170 e 200 anos. A primeira retirada da cortiça se faz entre os 25 e 30 anos de crescimento da espécie, quando o tronco tem cerca de 70 centímetros de perímetro. Imediatamente depois da retirada, devido ao fato de ser uma árvore muito resistente, o sobreiro inicia um processo complexo de regeneração que irá dar origem à camada seguinte de cortiça. A próxima extração deve obedecer um intervalo mínimo de nove anos e sempre acontecer nos meses quentes do verão. Essas condições, aliadas a necessidade de uma mão-de-obra extremamente especializada para a “colheita”, justifica o valor elevado e a busca por outras alternativas.

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Atualmente existem várias opções de vedação para os vinhos, sendo que a cortiça maciça é reservada para os exemplares mais sofisticados; quanto mais longa, larga e elástica, melhor a qualidade, podendo chegar a 1 euro cada rolha. As rolhas de aglomerado, que se originam dos “restos” das maciças, são mais comuns porque apresentam menor custo. As rolhas sintéticas, que surgiram nos anos 1990, são mais baratas ainda e permitem que os vinhos sejam guardados em pé – nas rolhas de cortiça os vinhos devem ser armazenados na horizontal, pois é necessário que o líquido fique em contato com a rolha evitando, assim, que ela resseque, quebre e, consequentemente, o vinho oxide.

As rolhas de rosca ou screwcap (aquelas iguais as garrafas de whisky) surgiram na Austrália nos anos 1960 e são cobertas internamente com um plástico inerte. Largamente utilizadas naquele país e na Nova Zelândia elas não devem absolutamente nada as rolhas de cortiça quando o assunto são vinhos de consumo em até 5 anos. Infelizmente, principalmente no Brasil, são vistas como representantes de vinho de menor qualidade, o que é uma grande inverdade.

Recentemente fala-se muito da rolha DIAM, composta 95% de cortiça processada e de substâncias como acrilato (um tipo de resina) e poliuretano. A promessa é que ela seria totalmente livre do TCA, o fungo responsável pelos vinhos com cheiro de rolha, o famoso bouchonnée. Mas por enquanto ainda há muita polêmica em torno dela, apesar de alguns produtores franceses já terem aderido, e aprovado, sua utilização.

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Curiosidades (*fonte Associação Portuguesa da Cortiça)

Da área mundial de florestas de sobreiros, 34% está localizada em Portugal.

A representatividade de Portugal na produção mundial de cortiça gira em torno de 49%.

84% dos sobreiros portugueses, as árvores que originam a cortiça, estão localizados no Alentejo, sudeste do país.

70% dos produtos da cortiça têm como destino a indústria vinícola, sendo que a França é o principal mercado.

70% das exportações de cortiça em Portugal são lideradas pelas rolhas, o que corresponde a 592 milhões de euros.

*As fotos dessa postagem são de autoria do fotógrafo Carlos Poly.

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